Superinfection

15/02/2020
Tradicionalmente quando o organismo  contrai alguma infecção e, na vigência da primeira infecção, contrai uma segunda infecção — relacionada ou não com a primeira — isso se chama infecção secundária.


Por pressão da língua inglesa, que denomina este quadro de superinfection, temos visto com frequência a utilização de "superinfecção" e até mesmo de "suprainfecção" com o sentido original inglês, substituindo um termo absolutamente claro e preciso no nosso vernáculo.

Vamos dar uma olhada:

O prefixo "super" significa excesso, posição superior, algo dotado de características extraordinárias, o que pode perfeitamente não ser o caso. A infecção secundária pode ser um simples resfriado comum. No nosso imaginário "superinfecção" dá a ideia de uma infecção pior, mais grave, mais difícil de combater e de curar, o que nem sempre corresponde à realidade.

Já "suprainfecção" é uma corruptela do decalque saxônico inteiramente equivocada: o prefixo "supra" significa acima, em cima, mais acima ou sobre no sentido de localização. Excetuando-se os casos nos quais a infecção secundária ocorreria na mesma localização anatômica da infecção primária, este termo não se aplica e, caso aplicado, seria francamente pernóstico.

Resumo da ópera em português: quando um paciente apresentando uma infecção primária contrai uma segunda infecção (p. ex. pelo uso de antibioticoterapia de amplo espectro), o nome desta segunda infecção é infecção secundária.

Este nome já é consagrado na língua portuguesa e não existe nenhuma razão para ser substituído por um decalque importado de uma língua saxônica que não traz nenhuma definição ou explicação fisiopatológica mais esclarecedora.